27 setembro 2011

"um lugar onde amanheça" - museu d.diogo de sousa


a associação famílias, no âmbito do projecto convergências e em parceria com a clarabóia – agenda cultural da casa do professor, apresentam a exposição colectiva “um lugar onde amanheça”, no museu d. diogo de sousa em braga, de 1 a 30 de outubro. [localização: museu d.diogo de sousa , rua dos bombeiros voluntários, 4700-025 braga I horário: aberto de terça-feira a domingo das 10h00  às 17h00]


os trabalhos artísticos produzidos especificamente para este projecto abordam as questões centrais do projecto convergências nomeadamente: a cidadania e a igualdade de género, a violência doméstica ou o tráfico de seres humanos.


artistas convidados:
ana caldas I ana pascoal I bárbara fonte+antónio machado I beatriz albuquerque I bento duarte I bernardino silva I domingos loureiro I filipe moreira I guilherme braga da cruz I helena santos I hernâni fernandes I hugo delgado I joana de deus I joão catalão I joão concha I joão noutel I jorge vilela I josé soares I luísa silveira I manuela são simão I mário sequeira I pedro marcolino I pedro soares I sara mota viana I  sílvia alves I sofia de carvalho I teixeira barbosa I teresa gil I una cátia cardoso+catarina sousa+vera narciso I vânia kosta


“Amanhece num mundo onde gostamos de nos demorar. E anoitece da mesma forma. A partir da afectividade convergente e respirável da mudança. Já não amanhece no olhar daqueles que estão sujeitos à dissonância de uma violência despropositadamente próxima. Nem aí anoitece. É essa oposição entre uma polissemia positivamente coreográfica e a estridência da sua quebra que é aqui proposta enquanto motor de interpretação e sensibilização artística. Amanhece onde interiormente amanhece. Em espaços tocados pelo calor. E em espaços que depois o reflectem.”
João Catalão, julho 2011






"Santa Teresa escreveu sobre a noite escura da alma, um tempo negro em que não se entendia Deus, quer dizer, o mundo. Creio que a noite escura nos habita, às mulheres, e somos por ela habitada há milénios, desde que o primeiro homem saiu da caverna, se pôs de pé e se sentiu capaz de dominar alguém da sua espécie que era menor em estatura. Desde então todos os códigos se escreveram para satisfazer o instinto primário da dominação e as mulheres, habitadas pela noite escura, acreditaram que era mandamento divino estarem submetidas ao varão e reproduziram literalmente o estigma da inferioridade.


Agora sabemos que não, que nós, mulheres, temos direito a contar-nos a nós mesmas, a dizer eu, a travar quem venha com histórias para que sigamos a ordem que outros estabeleceram. Não há amos, nem reis nem bandeiras que possam proteger o crime da desigualdade. Somos, as mulheres, hegemónicas entre hegemónicos, co-responsáveis pelo governo da casa e do mundo, redactoras de leis e impulsionadoras de tendências. Nenhuma mão pode levantar-se sobre uma mulher, nenhuma condenação é admissível por ela exigir a liberdade que sempre deveria ter sido o nosso património. A noite escura de Santa Teresa pode hoje iluminar-se com a vontade decidida de mulheres dispostas a parir usos e normas, outro mundo que renegue o que fez escravos e mantém escravas.

Podemos iluminar, sim, mas sobretudo podemos abandonar os medos seculares que nos habitam e que nos fazem depender dos costumes. A liberdade custa mas nós, mulheres, temos vindo a subir todas as encostas carregando os filhos e todos os preconceitos. Agora já não temos medo. O pano desceu, estamos no palco, é a nossa hora e temos a palavra. Que se ouça, é de justiça."  
Pilar Del Rio, 2011
(a claridade que chega, texto feito para a exposição "um lugar onde amanheça")

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