22 junho 2011

amizade entre uma borboleta e uma boneca...


 vai fazer precisamente quase um ano que tirei estas fotografias. de todas as vezes que participo na Feira de Artesanato de Vila do Conde tenho visitas surpreendentes. lembro-me de uma vez ter sido visitada por um passarinho. e esteve comigo durante algum tempo. todos que passavam olhavam as bonecas e surpresos ficavam por verem que andava com um passarinho bem agarrado num dos dedos da minha mão. andava eu de um lado para o outro e ele sempre comigo. andava eu a tentar fazer embrulhos só com uma mão porque na outra balançava esse passarinho. entretanto arranjei uma caixinha para o colocar até conseguir devolve-lo ao ramo da árvore que baloiçava continuamente ao sabor do vento. enquanto não voltava para o ninho, lá andavam também os pais a chilrear ás voltas de todos que passavam perto. chegada a hora certa, alguém trouxe um escadote. subi, e do telhado tentei chegar mais perto do ninho. final feliz. os pais vieram incentivar o voa do seu filhote e aos pulinhos seguiu o seu caminho. 

 desta última vez fiquei com uma dúvida enorme acerca das borboletas. afinal, quantos dias vivem as borboletas? no primeiro dia, quando fui montar o meu espaço ao recinto da feira, apercebi-me de uma borboleta que andava a vaguear perto. bem perto do espaço onde ia ficar. ainda reparei nas suas cores e não quis acreditar quando dias depois ela voltou. era a mesma. as manchas. as bolinhas das asas eram as mesmas que tinha visto dias antes. parecia no entanto estar um pouco maior e mais enérgica. e voltou noutro dia. e noutro ainda. e lá vinha ela pelo ar voando. chegava em frente ao meu espaço e lá pousava na boneca. pousava na cabeça. ora na mão. ora na minha máquina fotográfica quando tentava registar este apontamento. quando se sentia-se demasiado observada, voava um pouco para tentar distrair a atenção. e voava em volta. voava em volta e eu nem me mexia tentando adivinhar onde pousaria ela de seguida. o senhor que estava comigo no espaço ria-se. a borboleta pousara na minha mão e a máquina direccionada para a boneca. pensava eu se estaria por perto alguém para fazer o registo daquele momento. e assim foi acontecendo quase todos os dias. quase sempre à mesma hora. outros artesãos passavam por perto para ver o acontecimento. ás vezes chegavam mais cedo e perguntavam: “ela já apareceu aqui hoje?” e lembrando esta história, dou comigo a pensar que não foi nenhuma história de encantar. aconteceu e estive lá para ver e sentir a magia deste momento. pelos registos que fui fazendo olhava com atenção e as manchas eram as mesmas. as bolinhas nos mesmos lugares. e voltava a perguntar: “quantos dias vivem as borboletas?“ sempre me disseram que só duravam um dia apenas (embora nunca tenha acreditado nisso). e no último dia da feira, ela voltou. mas estava mais molinha. quando pousava já batia as asas mais lentamente. parecia que inspirava lentamente movendo as asas. senti que voltou àquele lugar para se despedir. esteve algum tempo assim na calçada e a minha preocupação, porque já não voava tão intensamente, era ser pisada por alguém. as pessoas que passavam nem se apercebiam dela ali e eu não tirava os olhos dela. passei algum tempo a olhar por ela. entretanto, ela voltou a voar e desapareceu no jardim. nunca mais a voltei a ver. hoje, recordo e partilho esta história de verdade. mas continuo a perguntar: quantos dias vivem as borboletas?

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