Depois de um dia a acrescentar retalhos azuis a um pedaço de céu e de mar em forma de manta de retalhos, regressava a casa quando encontrei este andorinhão caído na estrada atordoado. Deve ter feito um voo baixo e um carro deve ter batido nele. Encostei o carro, liguei os piscas e saí para o apanhar. Consegui trazê-lo para casa. Veio a viagem toda no meu colo muito quietinho.
"Segue com o olhar o voo livre da andorinha" foi a peça que tive a espreitar na minha janela em março sem imaginar eu que algum dia ia ter um verdadeiro na mão, encontrado perto desta mesma janela. Já em casa senti as suas patinhas com fortes unhas que pareciam agulhas a cravar na minha mão para se segurar. O que mais me emocionou foi sentir o bater do seu coração na palma da mão. Agradeço por estes pequenos momentos. Por ter passado naquele lugar, àquela hora. Não sei como vai ser o dia de amanhã mas fico feliz por dadas as circunstâncias, apesar de tudo, ele estar aqui. Há pouco voltei a ir espreitá-lo para ver como estava. Está quentinho, tranquilo. Continuo a sentir o bater do seu coração. Amanhã é outro dia e o meu desejo é ele ser capaz de voar e continuar a sua jornada.
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Durante a noite fui espreitá-lo por duas vezes. Coloquei o despertador para cedo regressar ao local onde o havia encontrado e tentar perceber se conseguia voar. Depois de uma bela noite de sono e de repousar do susto que apanhou, estaria com outra energia. Eram seis da manhã quando despertei e se o andorinhão passou a noite no chão da gaiola, de manhã encontrei-o mais desperto levantado nas grades. A única coisa que lhe consegui dar foram algumas gotas de água. Catou as penas. Sacudiu-se e percebi que se sentia seguro e estava bem e isso deixou-me feliz.
A esta hora a cidade ainda dorme num domingo de manhã. Era a hora perfeita para tentar libertá-lo. Assim sem dar nas vistas e tranquila podia perceber se o andorinhão-preto poderia regressar para junto da sua família. Naquela rua, no céu, já rodopiavam as dezenas de andorinhões atrás dos insectos. O andorinhão na mão olhava o céu com vontade de estar lá bem no alto junto dos outros. Seria uma imagem fantástica segurá-lo com as duas mãos e lançá-lo aos céus, mas continuei com algumas dúvidas em relação a uma das asas e optei por não fazê-lo ou o andorinhão iria sofrer outra queda e ficar ainda mais dorido. As lágrimas vieram-me aos olhos. Regressei a casa e a única coisa que lhe consegui dar foram mais algumas gotas de água. Andei na varanda a tentar apanhar insectos, alguns estavam presos em teias de aranha, mas tive imensas dificuldades em alimentá-lo. Obviamente não se alimentam das mãos dos humanos mas teria de fazer alguma coisa ou esta história poderia acabar aqui e uma tristeza ainda maior me iria encher o peito já apertado com toda esta situação. Pesquisei por centros de recuperação de animais selvagens e encontrei o Centro de Recuperação de Gaia. Contactei-os foram super atenciosos e prestáveis e decidi fazer uma pequena viagem até ao Parque Biológico de Gaia que acabei por visitar e conhecer. Aqui eles saberiam se está apto a voar e seria libertado. No local certo, este andorinhão-preto, com as pessoas com os conhecimentos e os meios adequados para cuidarem dele saberiam quando o poderiam devolver à vida. Fiz o que senti e desejei fazer...
agora sempre que olhar o céu azul e encontrar andorinhões, vou acreditar que este será um deles.
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